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Em 1972, o artista plástico Daniel Buren, convidado pelo curador Harald Szeemann para expor na Documenta V, em Kassel, interveio, numa sala já comissariada, onde estavam expostas obras de Jasper Jones, Robert Ryman e Brice Marden aí, colocou uma peça que cobria o espaço vazio, por baixo das obras desses artistas, com papel às riscas. A esta intervenção chamou-lhe "Exhibition of an Exhibition". No texto que escreveu para o catálogo da Documenta afirmava o seguinte "É cada vez mais habitual que o objeto da exposição não seja uma exibição de obras de arte, senão a exibição da exposição como obra de arte". A atitude de Daniel Buren teve, essencialmente, que ver com o protagonismo crescente que os comissários assumiam na organização e apresentação das obras de arte. Todavia, esta intervenção desviante de Daniel Buren toma aspectos muito mais abrangentes que não, somente, a contestação ao protagonismo dos comissários e leva-nos a reflexoões sobre várias temáticas como papel da percepção do espaço, a experiência do espectador ou o questionamento da função das instituições artistitcas, entre outros. Pedro Cabrita Reis, na sua recente exposição "Atelier" no Espaço Mitra e, em entrevista à Antena 1, no programa "Destacável", em 25 de maio, corrobora com o jornalista Aurélio Gomes ao afirmar que a exposição "é uma exposição que é uma obra de arte".

As roturas na arte têm o desígnio de liberdade. Podemos dar-lhes outras origens mas os marcos principais destas roturas iniciam-se com os dadaístas e, simultaneamente, com Marcel Duchamp. Percorrem todos os movimentos modernistas, desaguam na contemporaneidade e massificam-se nos nossos dias.

A 289, "Associação" que vai celebrar em breve sete anos de existência, nasceu nestes parâmetros de liberdade. Dedicada desde o seu início à arte contemporanea tem, ao longo do tempo, procurando romper com expectativas convencionais de concepção e apresentação da arte, através de intervenções e estratégias não convencionais tentando sempre desconstruir as fronteiras existentes entre arte e público, entre criador e espectador.

Como espaço flexível, fora das normas institucionais que gerem museus ou galerias comerciais, a 289 tem criado, ao longo destes anos, um ambiente propício à experimentação, à prática artística e a uma reflexão crítica sobre o seu próprio ato de expor. A 289 não é apenas um local de mostra de arte mas também um espaço de questionamento, aberto a novos possibilidades de significado da arte.

Uma exposição na 289 é, sempre, uma exposição de uma exposição.

Ao reabrir as portas, num novo espaço, com uma nova exposição, a 289 não procura um recomeço ou uma continuação, nem uma retoma daquilo que até agora, já foi feito, porque isso já foi feito. O desígnio da 289 é a transcendência, a transformação que surge do conflito de ideias, de fazeres ontológicos, de desvios e rupturas que desafiem as expectativas e giram novas possibilidades de criação. Esta exposição inaugural, neste novo espaço, tem a intenção de ser o início deste novo começo, imprevisível, sem normas ou regras institucionais onde os limites são definidos pelos não limites.

A arte contemporânea é liberdade e hoje é dia de festa. 

Gustavo De Jesus

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